quinta-feira, 30 de junho de 2011

Foucault e a loucura

Nossa última postagem sugere trechos de um vídeo e um artigo que apresentam discussões que Foucault propõe sobre a loucura, em diversos momentos da nossa sociedade.

Os links para os vídeos aqui postados fazem parte de um documentário chamado: "Foucault pair lui-même" (Foucault por ele mesmo), que traz trechos de algumas de suas obras importantes, além de comentários do próprio Foucault. Selecionamos alguns trechos que tratam da questão da loucura. 


Parte 1: http://dai.ly/hPJTwT
Parte 2: http://dai.ly/gEmiG5


Segue resumo do artigo: "Reflexões sobre a História da Loucura de Michel Foucault", de autoria de Priscila Piazentini Vieira, publicado na Revista Aulas, organizada por  Margareth Rago & Adilton Luís Martins. A partir dos estudos de Foucault, esse trabalho trata da questão do internato como solução para loucura e das intervenções médicas nesse cenário. 

"Resumo:  Esse artigo trata de duas críticas específicas presentes em  A História da  Loucura  de Michel Foucault: a contestação do internamento como a única solução  encontrada para lidar com a loucura e o domínio exercido pelas concepções médicas  em seu tratamento. Estas problematizações serão trabalhadas através das concepções  de história e de discurso defendidas por Foucault."


Link para o artigo: http://www.unicamp.br/~aulas/pdf3/24.pdf


Referências:
[1] Ficha do documentário: "Foucault Par Lui-même"
Gênero: Documentário / Diretor: Philippe Calderon / Duração: 62,5 minutos / Ano de Lançamento: 2003 / País de Origem: França / Idioma do Áudio: Françês 
Disponível para download em: http://filosofiacomcafe.blogspot.com/2009/05/foucault-por-ele-mesmo-foucault-par-lui.html
[2] VIEIRA, P. P. 2007. "Reflexões sobre a História da Loucura de Michel Foucault". in Revista Aulas. n 3. Campinas, SP. 
Disponível em: http://www.unicamp.br/~aulas/pdf3/24.pdf

terça-feira, 28 de junho de 2011

O social e o político na transição pós-moderna

O artigo que sugerimos a seguir: "O social e o político na transição pós-moderna", a exemplo do " Um discurso sobre as ciências(...)", também discute o século XX e a mudança para um paradigma pós-moderno. Também de autoria de Boaventura, o texto trata dos pilares sobre os quais se assenta o projeto "sócio-cultural" da modernidade e apresenta os roteiros que discutem os sintomas do paradigma pós-moderno.

Essa primeira parte, retirada do artigo, traz uma breve análise do autor sobre o século XX :

"O Século XX ficará na história (ou nas histórias) como um século infeliz. Alimentado e treinado pelo pai e pela mãe, o andrógino século XIX, para ser um século prodígio revelou-se um jovem frágil, dado às maleitas e aos azares. Aos catorze anos teve uma doença grave que tal como a tuberculose e a sífilis de então, demorou a curar e deixou para sempre um relógio. E tanto que aos trinta e nove anos teve uma fortíssima recaída que o privou de gozar a pujança própria da meia idade.
Apesar de dado por clinicamente curado seis anos depois, tem tido desde de então uma saúde precária e muitos temem uma terceira recaída, certamente mortal. Uma tal história clínica tem-nos vindo a convencer — a nós cuja inocência está garantida por não termos escolhido nascer neste século — que, em vez de um século prodígio, nos coube um século idiota, dependente dos pais, incapaz de montar uma casa própria e ter uma vida autônoma.
Eu próprio escrevi que o século XX corria o risco de não começar nunca ou, em todo o caso, de não começar antes de terminar. Com outras palavras e metáforas a mesma convicção ou preocupação tem estado presente, consciente ou inconscientemente, nos muitos balanços do século que, um pouco por toda a parte, se têm vindo a fazer. Não admira, pois, que muitos desses balanços tenham sido em verdade balanços do século XIX e não do século XX como proclamam.
Mas como, ao contrário do que queria Hegel, a história está para a razão assim como a astúcia está para a esperteza saloia, têm-se vindo a acumular em tempos recentes sinais de que esta biografia do século está provavelmente incompleta e de que os balanços e os enterros foram quiçá prematuros.
Apropriando para si uma condição social que tornou possível para todos nós, o século XX parece estar disposto a gozar a terceira idade em plena atividade e, mais do que isso, a desfazer, entre o sonho e o pesadelo, as verdades que se tinham por feitas a seu respeito. A questão que se põe é se terá tempo para refazer, a partir dos estilhaços em que agora se compraz, o que, doutro modo, terá de ser feito pelo século XXI.
Apesar de o século — mais um dos seus feitos ambíguos e surpreendentes — ter transformado o tempo em falta de tempo, a minha resposta é que admito que sim. É o que procurarei mostrar a seguir, com uma certa dose de otimismo trágico que colho de Heidegger."


Referências:

[1] SANTOS, B. de S. 1993. "O social e o político na transição pós-moderna"in: Lua Nova. no. 31, p.181-208. São Paulo. 
[2] SANTOS, B. de S. 1988. "Um discurso sobre as ciências na transição para uma ciência pós-moderna"in: Estudos Avançados. vol. 2no. 2. São Paulo. 

terça-feira, 14 de junho de 2011

A dupla existência da verdade

"Encontrei hoje em ruas, separadamente, dois amigos meus que se haviam zangado um com o outro. Cada um me contou a narrativa de por que se haviam zangado. Cada um me disse a verdade. Cada um me contou as suas razões. Ambos tinham razão. Ambos tinham toda a razão. Não era que um via uma coisa e outro outra, ou que um via um lado das coisas e outro lado diferente. Não: cada um via as coisas exatamente como se haviam passado, cada um as via com um critério idêntico ao outro, mas cada um via uma coisa diferente, e cada um, portanto, tinha razão. Fiquei confuso desta dupla existência da verdade."
Fernando Pessoa.

Ao reler o texto do Prof. Franklin Leopoldo e Silva, do livro Descartes: A Metafísica da Modernidade, sobre a Unidade da Ciência e a Unidade do Método em Descartes, me deparei com o seguinte trecho:

Por que Descartes vê como incompatíveis com a verdade a variação e a pluralidade na construção do saber?
Em primeiro lugar porque, como já vimos, a própria diversidade de opiniões acumuladas ao longo da história de saber se mostra incompatível com o caráter único que deve possuir a verdade.
Em segundo lugar, a relatividade que as condições e os costumes imprimem na maneira de pensar tornam o conhecimento dependente dessas conjunturas, caso não estabeleçamos o modo de tornar a busca da verdade na ciência independente de tais condições. (SILVA, p. 29)

Gueroult, ao citar Descartes, expõe ainda que:

Todas as vezes em que dois homens tem sobre a mesma coisa um juízo contrário, é certo que um deles se engana. Mas ainda, nenhum dos dois detém a verdade, pois, se tivessem dela uma visão clara e nítida, poderiam expô-la a seu adversário de tal sorte que ela acabaria por forçar sua convicção.” (DESCARTES [apud] GUEROULT, p.5)

Essas passagens me levaram a pesquisar sobre o modo como a antropologia enxerga a diversidade na construção do saber e da ciência e me deparei com o antropólogo Bruno Latour. O seguinte trecho de uma análise intitulada: “Uma ‘tempestade’ chamada Latour: a Antropologia da Ciência em Perspectiva”, de Sérgio Carrara, ilustra como as recentes discussões em torno do “fazer ciência” mostram as diversidades e complexidades que, em muito, se distanciam da proposta de um caráter único defendida por Descartes:

Latour parte do princípio de que "nossa vida intelectual está muito mal feita" (Latour, 1991, p. 13). Uma série de separações violentamente arbitrárias estaria nos impedindo de aceder a uma compreensão mais acurada do mundo à nossa volta. Para ele, a mais superficial leitura de um jornal diário é suficiente para revelar que estamos cercados por entes que já não conseguimos mais classificar facilmente. Tomemos as notícias sobre AIDS, diria Latour, e nos preparemos para enfrentar nada menos que os macacos verdes, os sofisticados laboratórios franceses e americanos, a decadência do mundo ocidental, os haitianos pobres, os virologistas, os governos do Primeiro e Terceiro Mundo, as lúgubres florestas africanas, os ricos homossexuais nova-iorquinos, os deuses em cólera, as diferentes culturas sexuais, a imprensa, o Papa, a ONU, os doentes organizados, a indústria farmacêutica, os militantes gays e antigays, certos vírus infinitamente pequenos e traiçoeiros, os antropólogos, os cientistas sociais e - por que não? - o futuro da espécie humana.
No entanto, segundo Latour, ao analisar como a AIDS (ou qualquer um dos outros que listamos como estando a ela relacionados), tendemos ou a considerá-los fatos naturais e objetivos, como fazem em geral médicos, biólogos, virologistas etc., ou a vê-los (geralmente contra aqueles) como fatos sociais, culturais ou discursivos, dependendo da nossa filiação teórica. Ou são coisa, ou são representação; objeto ou sujeito; fato ou símbolo; matéria ou idéia. Só não podem ser as duas coisas ao mesmo tempo. E, no entanto, para Latour, elas o são “de fato”, mesmo que não “de direito”. São, como diz, ao mesmo tempo “reais como a natureza, narradas como o discurso e coletivas como a sociedade” (Latour, 1991, p. 15). E é nesse “direito”, nessa espécie de constituição que nega “cidadania” a tais híbridos, a tais “quase-coisas” ou “quase-sujeitos”, que Latour vai localizar as dificuldades que temos em abordá-los.”

Esses trechos selecionados de Descartes e Latour exemplificam as diferentes visões desses autores sobre a construção da ciência. Enquanto o primeiro baseou sua filosofia em afirmar uma ciência única, dedicando boa parte de suas obras em desenvolver e aplicar um método para a constituição desse saber, Latour, ao contrário, deixa claro pelo exemplo da AIDS, a complexa teia envolvida na abordagem da ciência.

Bibliografia

[1] SILVA, F.L. 2005. Descartes: a Metafísica da Modernidade. São Paulo: Moderna, 2. ed.

[2] GUEROULT, M. 1953. Descartes selon l'ordre des raisons. by Aubier Montaigne. Tradução para o português de Enéias Forlin (Descartes Segundo a ordem das razões). s/d.


[3] CARRARA, S. 2002. “Uma ‘tempestade’ chamada Latour: a Antropologia da Ciência em Perspectiva”. in:PHISIS: Rev. Saúde Coletiva: Rio de Janeiro. 12 (I): pp. 179-203 (disponível em: http://www.scielo.br/pdf/physis/v12n1/a12.pdf).

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Nós que aqui estamos, por vós esperamos

A seguir, apresentamos uma resenha e alguns comentários de um importante documentário sobre o século XX: "Nós que aqui estamos, por vós esperamos". 


O texto foi escrito por Fernanda Nascentes e pode ser acessado pelo seguinte endereço: 

http://www.editorasaraiva.com.br/portalgeografia/default.aspx?mn=184&c=198&s=0&friendly=textos-de-apoio

O documentário “Nós que aqui estamos, por vós esperamos”, dirigido por Marcelo Masagão e lançado no Brasil em 1999, é uma memória do século XX.

O diretor dá uma volta ao mundo passando por guerras, dirigindo o olhar para a conseqüente banalização da vida e da morte. Aborda a industrialização do mundo – ou das partes que passaram pelo processo de modernização industrial – trata da alienação dos trabalhadores que se transformaram em peças da engrenagem capitalista. Mostra regimes totalitários, religiões, em suma, humaniza e contextualiza a história do século passado.

Masagão fala da mudança nas formas de comunicação após o advento do telefone, da energia elétrica, do rádio. Mostra a evolução da independência feminina ao longo do século, a produção em série de utensílios domésticos e carros.

Relembra a queda do Muro de Berlim, a violenta Revolução Cultural na China dos anos 70, sob os pés de Mão Tsé-Tung; a extração aurífera em Serra Pelada, no Brasil; a quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, e o inevitável desemprego da população, a fome, a perda da dignidade e a inutilidade dos diplomas dos letrados da época.

A dissipação de famílias e sonhos nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, devastadas pelas bombas atômicas; cita intelectuais, cientistas, escritores subversivos que tiveram seus livros queimados em praça pública por soldados nazistas.

A solidão e a injustiça das guerras. Traumas, humilhações, desespero, protestos, suicídios e ilusões.

Chefes de Estado como Stálin, Hitler, Pol Pot, Franco, Pinochet, Médici, entre outros, que causaram a morte de milhões de pessoas, motivados pelo que o autor chama de paranóia, são apresentados de forma clara e sem filtros.

O Girl Power na década de 20 é muito bem retratado por mulheres em passeata, queimando sutiãs, entrando no mercado de trabalho sob o lema feminista “We can do it!”.

Os maiôs encurtam, as mini-saias ganham adeptas, o controle da natalidade choca, mas permanece. Mulheres fumam, bebem, dançam, livram-se das amarras do lar.

A arte mostra a nudez de várias formas, de Duchamp a Munch, os artistas expressam a igualdade entre os sexos, que é exaltada e passa a ser valorizada. Religiões como o Islamismo, o Judaísmo, o Hinduísmo e o Candomblé são abordados como formas de buscar a Deus e Masagão “choca” o espectador ao mostrar uma criança “em alguma esquina do hemisfério sul”, a espera de Deus. Abandonada, indefesa, e ainda assim, viva.

Recorda a paz budista de Mahatma Gandhi, no Tibet, que venceu resistências imperialistas sem dar um tiro sequer.

O filme é todo exibido em preto e branco e no fim um cemitério é filmado em cores. No portal a frase: “Nós que aqui estamos, por vós esperamos” deixa ao espectador perguntas e respostas que só a linguagem cinematográfica é capaz de produzir.



Fernanda Nascentes


O documentário encontra-se dividido em partes no youtube. 
Abaixo segue a primeira parte:


domingo, 5 de junho de 2011

Mudanças de paradigma na psicanálise

Com base no artigo denominado “A teoria winnicottiana do amadurecimento pessoal”, de autoria do Prof. Dr. Zeljko Loparic, foi feito um breve descritivo das diferenças entre o modelo de psicanálise tradicional (Freud, Klein, Bion, Lacan) e o modelo winnicottiano.

(...) A psiquiatria é uma ciência que concebe o ser humano como um mero fato, um efeito de causas, uma coisa em conexão causal com outras coisas da natureza. Como seres humanos são vistos como coisas, eles podem também ser tratados como coisas. Nada impede, em particular, que os distúrbios da vida humana sejam submetidos à manipulação meramente técnica. (...)
Na psicanálise, notamos a existência de um conjunto de idéias-guia, tais como desejo, angústia e compreensão, que parecem pertencer a um outro paradigma. Em sua clínica, Freud trabalhava como psicólogo, ele se interessava pelo sentido de sintomas e pela compreensão de sintomas. Mesmo assim, o quadro metapsicológico geral no qual Freud situava seus estudos do ser humano ainda era o das ciências da natureza. Ele concebia o psiquismo humano como um aparelho movido a forças em conformidade com o princípio de causalidade. Apesar de buscar “libertar” o homem da dor e da doença, Freud não conseguiu ultrapassar o naturalismo e considerar seriamente a idéia de que o ser humano não era apenas uma peça da natureza (uma molécula gigante ou coisa parecida), mas um ser dotado de liberdade. Por essa razão, ele tampouco pôde reconhecer que existiam sofrimentos humanos que deveriam ser estudados única e exclusivamente à luz da peculiar condição humana.
Na psicanálise, essa virada foi realizada por Donald W. Winnicott. Winnicott recusou explicitamente o naturalismo e o determinismo. Não que ele ignorasse o físico, mas ele entendia que existiam problemas de saúde que não podiam ser postos na conta das funções fisiológicas e tratou de elaborar uma ciência de, pelo menos, uma parte desses distúrbios. Essa ciência é a psicanálise winnicottiana.  Ao constituí-la, Winnicott mudou os pressupostos essenciais da psicanálise tradicional, operando a transição do modelo naturalista e objetivante do ser humano, característico da psquiatria e da psicanálise tradicional (Freud, Klein, Bion, Lacan) para um modelo decididamente não-naturalista. Dada a conexão íntima entre a metapsicologia de Freud e a metafísica moderna, podemos chamar o modelo winnicottiano do ser humano de pós-metafísico. É nesse novo paradigma que foi desenvolvida a teoria winnicottiana do amadurecimento pessoal. (...)

Referência Bibliográfica:
[1] LOPARIC, Z. 1999. "A teoria winnicottiana do amadurecimento pessoal", in: Infanto, vol. VII, suplemento 1, 1999, pp. 21-23.

Para saber mais sobre o autor, indicamos o site: http://www.zeljko.loparic.com/

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Teoria da ação comunicativa de Habermas:

Possibilidades de uma ação educativa de cunho interdisciplinar  na escola.

O texto na íntegra encontra-se no site http://www.scielo.br/pdf/es/v20n66/v20n66a6.pdf


Maria Augusta Salin Gonçalves
Professora do Programa de Mestrado em Educação da Universidade do Vale do Rio dos Si-
nos – Unisinos.

          RESUMO: O objetivo deste artigo é apresentar e discutir condições teórico-práticas da execução de um projeto de ação educativa de cunho interdisciplinar na escola, tendo como base a teoria da ação comunicativa de Jürgen Habermas. Inicialmente, apresentamos aspectos significativos dessa teoria. A seguir, apresentamos linhas norteadoras que adotamos como ponto de partida e suporte da pesquisa-ação, e que fornecem também as categorias para análise e interpretação da experiência.

           Pode-se afirmar que, de maneira geral, é grande a preocupação dos educadores com a atomização do conhecimento existente nos currículos escolares, que produz uma visão fragmentada do real, desvinculada de um contexto histórico e distanciada da realidade na qual o aluno vive. Educadores, sociólogos e epistemólogos têm analisado essa questão sob diferentes perspectivas e trazido importantes contribuições no que diz respeito à interdisciplinaridade, visualizando-a como uma possibilidade de superação dessa fragmentação do conhecimento, tanto em nível de currículo como de pesquisa (Etges 1993; Fazenda 1991 e 1994; Freitas 1989; Frigotto 1993; Jantsch e Bianchetti 1995; Japiassu 1976; Lück 1994; Severino 1995; Siebeneichler 1989; entre outros).
           Neste artigo, pretendo abordar essa questão na perspectiva do currículo na escola básica, cujos objetivos são anunciados no sentido de for-mar cidadãos que participem ativa e criticamente do processo cultural de sua época histórica. Parece-me pertinente colocar aqui a questão: Como possibilitar ao aluno condições de participação ativa e crítica, em uma estrutura escolar que em si mesma é fragmentada e destituída de vinculação com a vida concreta e com os problemas de sua época histórica?
           Por outro lado, essa estrutura curricular gera um isolamento entre os professores, ficando cada um fechado na sua disciplina, pouco comunicando-se com os colegas a respeito dos problemas educacionais em geral e dos relativos aos seus alunos em particular.
           Não pretendo, neste artigo, deter-me na crítica à escola dividida em diferentes disciplinas com programas específicos e conteúdos determinados desde cima, mas, sim, refletir sobre as possibilidades de, dentro das condições atuais de ensino, minorar as conseqüências da fragmentação dos currículos escolares e das condições de isolamento do professor.

domingo, 29 de maio de 2011

Ilya Prigogine: uma contribuição à filosofia da ciência

O artigo de título: Ilya Prigogine: uma contribuição à filosofia da ciência se encontra no site http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-11172008000200009 e apenas um trecho, que permite compreender a ideia geral que será tratada no texto, será transcrito aqui.

Neusa Teresinha Massoni1
Instituto de Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil

RESUMO
Este trabalho tem o objetivo de trazer para o debate epistemológico algumas das principais idéias filosóficas de Ilya Prigogine enquanto cientista e um pequeno resumo de suas teorias científicas enquanto filósofo. Queremos crer que ele próprio, um eminente físico-químico ganhador do Prêmio Nobel de Química em 1977, não se dizia filósofo da ciência. Mas sua inovadora interpretação do tempo, do caos e da instabilidade, fontes de desordem e também de ordem, nos proporciona uma excursão por uma ciência em evolução, nas palavras de Prigogine, e não deixa dúvidas de suas profundas contribuições para uma renovada visão de inter-relação entre ciência e filosofia. As idéias aqui sumarizadas, no entanto, não devem ser tomadas como generalizações indevidas, pois as pesquisas nessa área ainda estão em curso, mas tão somente como uma instigante contribuição às visões epistemológicas contemporâneas.

1. Introdução
Este pretende ser apenas um texto introdutório às idéias epistemológicas de Ilya Prigogine (1917-2003). Prigogine nasceu em Moscou e faleceu em Bruxelas, com 86 anos de idade. Estudou física e química na Universidade Livre de Bruxelas, Bélgica, para onde seus pais se mudaram quando ele tinha 4 anos, e obteve nacionalidade belga. Ganhou o prêmio Nobel de Química em 1977 por suas contribuições à termodinâmica de não-equilíbrio e pela teoria das estruturas dissipativas. Foi diretor dos Institutos Solvay de Física e Química, em Bruxelas, e diretor do Centro Ilya Prigogine de Mecânica Estatística, Termodinâmica e Sistemas Complexos de Austin, Texas. Suas idéias inovadoras nos levam a repensar o papel do nosso tempo, a nossa visão sobre o conhecimento e, particularmente, sobre as leis fundamentais da física que buscam explicar o universo. Seu enfoque centra-se em que sistemas instáveis (de não-equilíbrio) estão na base da descrição microscópica do universo e, com isso, as leis da dinâmica precisam ser formuladas em nível estatístico, aonde a irreversibilidade e a seta do tempo surgem como elementos fundamentais e indissociáveis dos sistemas instáveis.